"Sem a música, a vida seria um erro"

Kick Out the Jams - MC5

segunda-feira, 28 de maio de 2007


Antes de qualquer palavra, vamos as imagens...



Acho que agora dá para entender o que passo a escrever!

Por mais que as palavras soem como meros sussuros diante de tal magnitude de massa sonora que arrebenta as caixas de som, tenho que escrever alguma coisa...

Sempre gostei de punk rock. A urgência do movimento original, a sujeira do instrumental e o lema "do-it-yourself" mudaram minha vida. Desde as bandas inglesas dos primórdios até as de hardcore californianas, formaram em mim uma alma contestadora. Coisa que não se perde pelo caminho... Punhos cerrados contra as injustiças e mazelas humanas.

Com o passar do tempo fui entendendo que muito do que saiu do movimento punk, na verdade era um som que não tinha nada de original. As urgências humanas sempre bradam, seja qual for a época. Foi ai que ouvi falar de Stooges, Velvet, New York Dolls e outras "coisas" que estavam adiantados demais para o seu tempo...

Destas bandas, uma me deixou totalmente impressionado com a massa sonora que saia das caixas de som de uma antiga loja de rock aqui de Niterói.

Era uma loja imunda, parecia uma espelunca de tão bagunçada que era. Dava medo de entrar na loja! hehehehe

Lembro até hoje que um dos donos me vendeu um vinil triplo "Remasters" do Led Zepellin por pelo menos metade do preço de tabela. Porque a bondade? Porque calhou de ser eu quem estava na loja, no exato momento em que chegou um cara "bem simpático" cobrando uma dívida que era exatamente a metade do valor do disco do Zepellin.

Sem nem piscar o dono da loja vira pra mim e fuzila: "Moleque, você tem este valor ai? Se tiver você leva o disco do Zepellin e ainda pago minha dívida com o amigo aqui!" O final da história é que levei o bendito "Remasters" pela metade do preço....

Mas voltando ao MC5 - hehehehehe... - nesta pocilga em forma de loja acontecia aos sábados a tarde um encontro com uma galera que se reunia para ouvir discos de rock progressivo. Na maioria quarentões.

Por algum motivo que não me lembro, resolvi dar uma passada para ver se tinha alguma novidade.

Chegando na loja tinha 3 pessoas lá, um dos donos e mais 2 caras fantasiados de hippies, e tudo cheirando a incenso vagabundo. Hoje lembrando da cena, não há como não pensar em qq um dos filmes do Tarantino...

Do nada aparece um maluco com roupa toda social!!!!! Com gravata e tudo!!! E o cara grita a seguinte frase: "Consegui "Kick Out the Jams"!!!!" Os 3 hippongas ficaram loucos!

E eu sem entender patavina alguma!

O cara tira de uma sacola um vinil, sem esquecer de mencionar "cuidado que é vinil alemão!!!"
Eu com meus 16 anos parado em meio a uma bagunça hippie, em silêncio observando aquele ritual.

Pensei: não saio daqui sem que estes caras coloquem este disco para tocar! E perguntei na lata, sem parar pensar muito: "O que é isso?"

Ouvi algumas gargalhadas, antes de ser quase humilhado: "Pirralho, ouve som de pirralho! Agora você vai ouvir o que existiu antes de tudo!"

Ai o cara colocou no toca-disco o tal "vinil alemão" do MC5.



O universo começou a fazer sentido apartir daquela birosca de 6 metros quadrados. Nunca os graves de uma caixa de som haviam sido tão GRAVES. Os hippongas estavam em meio a um transe diante do barulho ensurdecedor deste álbum primoroso, numa tarde de inverno em meio a uma galeria já quase vazia. E eu, parado ouvindo tudo sem dar uma palavra sequer...

Ouvir este disco de alguma forma que não seja o volume máximo é dar atestado de loucura.

Por isso siga as duas dicas:
1- Volume o mais alto possível
2- E se assombre...

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